Joseph Pujol tinha uma habilidade incomum. E, em vez de sentir vergonha, descobriu o potencial artístico desse seu dom

Corria o ano de 1892. A platéia do teatro Moulin Rouge, em Paris, assistia a um espetáculo insólito. “Agora o disparo de canhão”, anunciava o apresentador. No palco, um artista vestido em cetim negro, com uma capa vermelha e luvas brancas, reproduzia o estrondo com perfeição. Por meio de flatulências. Foi por habilidades como essa que Joseph Pujol ganhou o carinhoso apelido de Le Pétomane (algo como “o peidorreiro”).

Nascido em 1857, em Marselha, Pujol descobriu ainda moleque que possuía um dom, digamos, pouco convencional: conseguia controlar de tal forma os músculos do abdômen e do ânus que, por via retal, retinha e expelia até 2 litros de água. Viu que, usando a mesma técnica, poderia controlar o ar e reproduzir músicas populares e relinchos de cavalo. Mas, até então, a sua platéia era restrita a amigos e familiares. Pujol permaneceria no anonimato se não fosse por um amigo do ramo do teatro. Em 1887, esse sujeito convenceu-o de que havia público para o seu espetáculo de gosto duvidoso. E Pujol resolveu largar sua recém-inaugurada padaria para investir na carreira artística. Estreou num teatrinho barato de Marselha. Em pouco tempo, passou para um teatro maior e, depois de 5 temporadas bem-sucedidas, foi contratado em Paris. Ali se tornou sensação e conquistou fama na Europa inteira.

Esse tipo de espetáculo não era exatamente inédito: na Irlanda medieval, artistas flatulentos se apresentavam nas feiras populares. No Japão, eram comuns concursos de puns e arrotos entre o povão. Mas ninguém até então havia ficado famoso por tal habilidade. Versátil, Pujol usava seu instrumento de sopro para fazer imitações, fumar cigarro, apagar velas e tocar músicas em uma flauta. A platéia delirava com o quadro “Os puns de uma esposa” – estes, quase inaudíveis na noite de núpcias, mas barulhentos uma semana depois.

Le Pétomane se tornou uma das figuras mais populares de Paris. Charges sobre ele apareciam com freqüência nos jornais franceses. Figuras importantes compareciam aos seus shows, como o rei belga Leopoldo 2º, que viajou incógnito a Paris para vê-lo no Moulin Rouge. Há quem diga que até Sigmund Freud assistiu ao espetáculo. Em 1895, Pujol estava rico. Tão rico que deu-se o luxo de esnobar o Moulin Rouge e abrir o próprio teatro.

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A próspera carreira terminou em 1914, com a eclosão da 1ª Guerra Mundial. Depois de ver dois de seus filhos voltar inválidos da guerra, Pujol caiu em depressão e desistiu da vida artística. Vendeu seu teatro e voltou para Marselha, onde abriu uma nova padaria. Morreu cercado dos filhos, noras, genros e netos em 1945, aos 88 anos.

Grandes momentos

• No auge, Joseph Pujol chegou a ganhar 20 mil francos semanais com seus shows. Para dar uma idéia, a atriz mais importante do teatro francês – Sarah Bernhardt – ganhava 8 mil semanais.

• As emissões de gases não tinham odor. Pujol lavava o cólon diariamente com água e substâncias aromáticas para evitar maus cheiros.

• Quando Pujol morreu, uma escola de medicina de Paris pediu permissão à sua família para examinar o famoso ânus do defunto. Os familiares, indignados, se negaram a atender ao pedido.

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